Canção gravada em 1955, O Menino da Porteira é uma das músicas mais tradicionais do sertanejo raiz. Desde então, foi regravada muitas outras vezes, já virou um filme e é um clássico com uma história e tanto.

Mas qual é a história por trás da música? Afinal, é baseada em fatos reais? E o que fez O Menino da Porteira virar um clássico do sertanejo?

Com tanta mística em torno da música, vamos investigar como a canção foi composta, sobre a história que ela conta e analisar o significado da letra. Vem com a gente!

O Menino da Porteira é considerado um cururu, ou seja, possui um ritmo bastante caipira, baseado em letras poéticas e no som de violas caipiras (às vezes, até de batidas de pé). Foi composta por Teddy Vieira e Luis Raimundo e gravada pela primeira vez por Luizinho e Limeira.

Depois, virou uma gravação até frequente: Tonico e Tinoco, Sérgio Reis, Tião Carreiro e Pardinho, Daniel e Michel Teló são só alguns dos nomes que já fizeram sua versão da música. A história ainda rendeu dois filmes, um de 1976 e um de 2009.

E a história que a letra conta, hein? Bom, dizem que a inspiração veio de uma das viagens de Teddy Vieira ao sul de Minas, perto da cidade de Ouro Fino (que é mencionada na música). Numa de suas travessias, Teddy viu um menino, que abriu e fechou uma porteira pra ele em sua passagem.

A história do menino da porteira é real ou não?

Bom, na verdade, o resto da história foi criada pelo compositor, que usou o garoto daquele dia como protagonista da narrativa de sua música. Ou seja, a letra não é totalmente real!

Segundo um amigo do compositor, as músicas de Teddy Vieira eram como fábulas, sempre com uma moral por trás. Por isso, ele se inspirou na curta cena que viu e tornou-a uma história marcante.

Independente disso, não deixa de ser uma grande história contada na canção. O triste é que Teddy não chegou a ver sua música se tornando um clássico e morreu passando por dificuldades financeiras, em 1965. Hoje, o compositor tem uma estátua em Itapetininga – SP, sua cidade natal.

Afinal, foi a versão de Sérgio Reis, gravada em 1973, que fez da música um grande hino do sertanejo.

O significado da letra de O Menino da Porteira

Mas no fim das contas, qual é a narrativa da música? Vamos contar um pouco dela aqui:

Toda vez que eu viajava pela estrada de Ouro Fino De longe eu avistava a figura de um menino Que corria abrir a porteira e depois vinha me pedindo Toque o berrante, seu moço, que é pra eu ficar ouvindo

Aqui é a parte baseada em fatos reais, né? Ali perto de Ouro Fino, em Minas Gerais, o compositor passeava e chegou a avistar um menino, que lhe abriu e fechou a porteira.

Na área rural, é comum ter porteiras entre uma residência e outra. Quando você vai passar de carro ou cavalo, por exemplo, tem que descer, abrir, passar da porteira e fechar. Por isso, às vezes você pede outra pessoa do lado de fora para abrir.

Já a parte do berrante provavelmente foi criada por Teddy, que queria mostrar mais um lado do menino. E fica bonito: o pequeno garoto gosta do som do berrante e fica feliz de poder ouvi-lo.

Quando a boiada passava e a poeira ia baixando Eu jogava uma moeda e ele saía pulando Obrigado, boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando Pra aquele sertão afora meu berrante ia tocando

Apesar de não terem uma relação tão próxima, o narrador e o menino compartilhavam um momento singelo. Além disso, é interessante como a história é bem contada e descritiva, né? Dá pra imaginar perfeitamente a cena do menino grato pela interação rápida que tem com o boiadeiro.

Nos caminhos desta vida muitos espinhos eu encontrei Mas nenhum calou mais fundo do que isso que eu passei Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei Vendo a porteira fechada, o menino não avistei

Agora a narrativa fica mais tensa e cria um certo suspense. Se o menino não está lá na porteira, o que pode ter acontecido? E se machucou tanto o narrador… será que foi algo muito pesado?

Ah, e um detalhe: reparou a preocupação do compositor em ser poético, como um trovador? São versos longos e dá pra ver claramente a diferença entre estrofes, porque cada estrofe tem uma mesma rima para todos os versos. Ou seja, tinha um cuidado estético apurado por parte de quem compôs (que é um sinal da época, também).

Apeei do meu cavalo e no ranchinho à beira chão Vi uma mulher chorando, quis saber qual a razão Boiadeiro veio tarde, veja a cruz no estradão Quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração

Triste, né? A história é uma tragédia de roça e tem esse momento bastante emocionante. O gado, sem dó, tinha tirado a vida do pequeno menino e agora a mãe sofria em seu lugar.

Lá pras bandas de Ouro Fino levando gado selvagem Quando passo na porteira até vejo a sua imagem O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem Daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem

Assim, vemos que o narrador sente a falta do menino, mesmo não tendo muita relação com ele. Não tem como não ficar triste pelo pequeno garoto e sua família. Sempre que passa por Ouro Fino, o boiadeiro lembra do menino da porteira.

A cruzinha no estradão do pensamento não sai Eu já fiz um juramento que não esqueço jamais Nem que o meu gado estoure, que eu precise ir atrás Neste pedaço de chão berrante eu não toco mais

Chateado com a tragédia, o boiadeiro leva consigo essa convicção: o berrante tinha que ser tocado para o menino. Por isso, ele jura que não tocará mais o berrante por aquelas terras.

A história do sertanejo

Como é forte a letra, né? Quando a gente fala de um clássico do sertanejo, estamos falando de um clássico da música brasileira, que já emocionou muita gente.

O gênero, que veio do interior e das violas tocadas em pequenas fazendas, é uma parte importante da cultura do Brasil. Se você não foi marcado pelo sertanejo, com certeza conhece gente que é apaixonada até hoje. Desde o raiz até o sertanejo universitário, é um gênero que toca muita gente Brasil afora. Por que não celebrar aquele modão, hein? Bota o Menino da Porteiro pra tocar e sinta aquela viola!

Ouro Fino e o Menino da Porteira

Toda vez que alguém viajar lá para as bandas de Ouro Fino, de longe vai avistar a figura de um menino. Na entrada da cidade, escorado numa porteira com a mão levantada, um sorridente menino de dez metros de altura feito de concreto recepciona visitantes e moradores que por ali passam. Os Hotéis Fazenda Menino da Porteira organizam city tours em Ouro Fino para visitar a série dos monumentos e outros pontos de interesse como o Santuário São Francisco de Paula e casarão colonial onde foi assinado o tratado do Café com Leite. No Hotel Fazenda Bom Café, já uma réplica em escala menor do monumento para você garantir a foto digna de rede social.


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